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Os Pobres Diabos – Nada de novo debaixo do sol!

Os Pobres Diabos não traz nada para a mesa

No Cinema, alguns assuntos já foram abordados demasiadamente. Talvez, a Segunda Guerra Mundial seja o principal deles. Há tantos filmes sobre esse trágico evento histórico que, para se destacar no meio da multidão, uma obra precisa trazer algo novo, podendo ser tanto uma perspectiva incomum (como o russo Paraíso o fez) quanto uma estética diferente da normalmente empregada. Numa escala menor, pode-se dizer a mesma coisa sobre o tema da vida circense. Depois das incursões de Ingmar Bergman e Federico Fellini nesse universo, não há muito mais o que adicionar. No caso específico do Brasil, também há uma tradição de filmes sobre a arte mambembe. Sendo assim, para chamar a atenção, Os Pobres Diabos precisava ser muito mais ousado do que, de fato, é.

Crítica do nacional Os Pobres Diabos

Os Pobres Diabos

Contar a história de um grupo de pessoas que continua praticando a sua arte mesmo quando a situação financeira é precária é investir numa trama vista e revista inúmeras vezes pelo público nacional. Além disso, nessa realidade agridoce na qual o brasileiro e muitos outros povos do terceiro mundo estão diariamente inseridos, o circo sempre foi uma maneira de trazer um pouco de luz para a escuridão rotineira. Porém, se for para assistir a um filme que recria, repetidamente, infelizes números cômicos e não traz nenhum insight sobre a vida interior dos artistas que fazem a alegria da população mais pobre, é melhor ir ao circo e acompanhar pessoalmente o trabalho dos mambembes reais do que ver uma realidade ficcional pobremente construída.

Nem mesmo tecnicamente o filme consegue se sobressair, uma vez que, visualmente, com a exceção dos belos planos gerais que retratam toda a imensidão e miséria da árida paisagem, o diretor de fotografia Petrus Cariry não pôde se apropriar das cores para criar um espetáculo imagético (pois não seria condizente com o retrato real pretendido por Rosemberg Cariry), e, no que diz respeito ao roteiro, não há nenhum personagem interessante o suficiente para atrair a atenção do espectador (todos eles são unidimensionais) e a falta de estrutura da história beira o amadorismo. Não há distinção de atos e tudo é jogado na narrativa, ficando meramente na insinuação e nunca se concretizando.

Como, por exemplo, a homossexualidade do personagem interpretado por Everaldo Pontes. Há dois momentos destinados a retratar o seu afeto por um funcionário do circo. No entanto, no restante da narrativa, a subtrama é completamente abandonada. Já o triângulo amoroso formado por Lazarino (Chico Díaz), Zeferino (Gero Camilo) e Creusa (Sílvia Buarque) não tem propósito narrativo algum e é colocado na trama somente para gerar repetidos alívios cômicos (a gag que ocorre dentro do trailer aparece em cena duas vezes!). Sim, o objetivo do diretor era oferecer fragmentos do que consiste a vida desses personagens, mas como é possível se interessar por aquilo que está sendo mostrando se não sabemos nada a respeito deles?

Crítica do nacional Os Pobres Diabos

Críticas descabidas e vazias

Dessa maneira, não há como levar a sério as “críticas” que o longa tenta direcionar a certas questões. São feitos comentários acerca do colonialismo português, o capitalismo e a religião evangélica (há uma personagem patética cuja existência se dá apenas para mostrar como alguns cristãos são “hipócritas”), mas é impossível ouvir o que um cineasta tem a dizer quando ele se contenta em apresentar conceitos complexos de uma maneira totalmente superficial. Aliás, chega a ser cômico que um filme repleto de erros elementares se arvore o direito de criticar algo. Antes de colocar a cereja, é necessário que exista um bolo.

Tendo as atuações do elenco como uma de suas raras qualidades, Os Pobres Diabos é um desserviço ao Cinema nacional e ao circo. Se for para adentrar numa tradição rica e repleta de obras memoráveis, é melhor que a ambição dos realizadores seja alta, senão, é melhor nem existir. Do jeito que foi feito, o novo longa de Cariry será mais um título na lista dos filmes esquecíveis cujo tema já foi excessivamente abordado.

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