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O Touro Ferdinando – Uma animação adorável!

Com simplicidade, O Touro Ferdinando é bem sucedido em sua proposta

Escrita por Munro Leaf e ilustrada por Robert Lawson, a premissa do touro que se recusava a tourear se tornou um dos livros infantis mais fortes de todos os tempos. Encantou crianças por várias gerações, ganhando até um curta da Disney, que adaptou com louvor essa história e venceu o Oscar em 1938. Quando a equipe do estúdio Blue Sky (A Era do Gelo: O Big Bang), liderado pelo animador brasileiro Carlos Saldanha, decidiu que seu próximo longa seria uma nova adaptação, uma pergunta ficou no ar: como fazer um longa metragem a partir de uma história que tem menos de trinta páginas, sem muitos elementos a explorar? A divisão de animação da Fox topou a aposta de O Touro Ferdinando (Ferdinand), com um resultado que não decepciona e é, no mínimo, eficiente.

Crítica de O Touro Ferdinando

O Touro Ferdinando

O longa começa apresentando Ferdinando (voz original de John Cena, de Na Mira do Atirador), que escapou ainda bezerro de um rancho, após descobrir que seu pai morreu em uma tourada. Ainda pequeno, decide que não quer lutar como os outros touros e isso fica mais forte ao passar sua infância na fazenda da amável Nina (Lily Day), onde recebeu cuidados e mimos. Logo após um pequeno incidente na aldeia perto da fazenda, durante Festival das Flores (lembrando que o personagem é famoso por amar o cheiro das flores), Ferdinando é considerado uma ameaça e é levado para um rancho. Ele vai provar aos outros touros que há mais opções do que apenas lutar, fazendo o possível para voltar à sua dona.

Quem conhece o conto percebe que – por razões óbvias – houve sérias mudanças no enredo. Mas, como toda boa adaptação, a moral da história continua intacta. O roteiro de Robert L. Baird, Tim Federle e Brad Copeland se mostra eficiente por conferir consistência a uma história aparentemente frágil. Ele apresenta o horror que Ferdinando tem pela violência não como uma excentricidade, mas como uma característica forte do personagem, utilizada de maneira catártica e inteligente no clímax. Os personagens são carismáticos e funcionais, com alívios cômicos pontuais e divertidos. Destaque para a ótima cabra Lupe (Kate McKinnon), uma das personagens mais engraçadas dos últimos tempos.

Isso se deve à ótima direção de Carlos Saldanha, que, desde o primeiro A Era do Gelo, mostra que tem tato para a condução de sequencias de ação e uso dos alívios cômicos. O longa mostra bem narrado e divertido, fazendo uma boa homenagem à cultura espanhola e uma critica direta às touradas e o tratamento dispensado aos animais. É bom enfatizar: tudo isso em um filme baseado em um conto minúsculo. A equipe merece aplausos por extrair esse suco de tal material.

Mas um dos problemas de O Touro Ferdinando está no fato de se contentar com esses detalhes, sendo que poderia ir além. Não que isso se mostre um sério defeito da narrativa, mas acaba ficando evidente uma falta de ambição. Outro deslize está na trilha sonora de John Powell, alternando entre o bom e o apenas genérico.

Crítica de O Touro Ferdinando

Involução na técnica

Diante dos problemas, o pior é o quanto a animação parece ter piorado, tomando Rio, do mesmo estúdiocomo referência. O design dos personagens humanos é estranho e parece faltar organicidade em seus rostos. No caso dos touros se mostra mais consistente, mas como há muitas cenas com  os humanos, isso acaba atrapalhando e chamando a atenção no sentido negativo. É estranho que se veja essa involução em um estúdio competente como a Blue Sky, que esperamos sempre que se supere a cada trabalho.

Mesmo assim, O Touro Ferdinando se encerra com um saldo positivo e vai divertir adultos e crianças. É uma história bonita e necessária quanto a aceitar as diferenças dos outros, já que, às vezes, só queremos ser autênticos como o protagonista: ficar na sombra do carvalho, quietinhos e cheirando as flores.

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