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La La Land: Cantando Estações – Sobre música e cinema!

Acertando novamente com La La Land

Em 2014, quando o mundo ouviu falar de Damien Chazelle graças ao excepcional Whiplash, alguém deve ter pensado “vamos ver se ele se sai tão bem no próximo!”. Bem, La La Land: Cantando Estações (La La Land) chegou. O quarto filme do diretor/roteirista – que estreou com o pouco visto Guy and Madeline on a Park Bench, de 2009, realizando quatro anos depois o curta que, no ano seguinte, renderia o filme que o colocou nos holofotes – não só confirma sua destreza narrativa. Novamente passeando pelo mundo do Jazz, Chazelle usa a liberdade de um musical à moda antiga para falar diretamente sobre as duas artes que, pelo visto, lhe são as mais caras.

La La Land: Cantando Estações, de Damien Chazelle

La La Land: Cantando Estações

Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista de jazz frustrado pelo pouco interesse das pessoas de hoje neste tipo de música, além de ser obrigado a aceitar trabalhos abaixo de seu talento. Seu sonho é abrir um clube temático e manter essa chama viva. Mia (Emma Stone) trabalha em uma cafeteria dentro dos estúdios da Warner, aspirando tornar-se atriz enquanto corre de um teste a outro. Sonhos diferentes de pessoas idem, que poderiam nunca encontrar-se, mas o acaso dá seu jeito e o mais manjado acontece, marcado por cada estação do ano (justificando o subtítulo inútil). Sim, manjado, mas uma das grandes qualidades do diretor, como provado em seu longa anterior, é justamente a forma de contar uma história tão comum em sua essência, tornando isso algo muito maior.

La La Land abre de forma a deixar claro para seu espectador sobre o que é essa produção, revisitando traços da antiga Hollywood em uma sequência que já impressiona. O que pode até ser animador para as pessoas que torcem o nariz para musicais é que os números de canto e dança – contribuindo para levar a história adiante – acontecem de uma forma muito natural e sem exagero, parecendo chegar para lembrar o espectador o tipo de filme que ele está assistindo. Seja nestes trechos ou no restante do filme, o diretor se mostra à vontade e divertindo-se com a liberdade de sua câmera e a gama de recursos que pode utilizar aqui, diferente de Whiplash, cuja proposta pedia a predominância de espaços fechados e sombras marcadas.

La La Land: Cantando Estações, de Damien Chazelle

Falando em sombras, La La Land tem o oposto predominando. Absolutamente bem sucedido com seu visual luminoso, onde a profusão de cores comunica bastante sobre os personagens, a direção de arte de Austin Gorg – que, não por acaso, ocupou a mesma função em Demônio de Neon – faz sua parte para tornar esse mundo interessante. A fotografia de Linus Sandgren, de Joy, contribui ressaltando esses detalhes mais alegres, mas trazendo também imagens inesquecíveis sob o peso de uma luz direta em um ambiente escuro, quando a cena assim necessita.

Tem mais conteúdo nesta proposta

As paixões de Damien Chazelle, citadas no primeiro parágrafo, estão entre os detalhes que fazem a diferença ao contar uma história como essa. Em primeiro lugar, a entrega e a satisfação dele com seu projeto estão impressas em cada fotograma do filme, mas não apenas isso. Ao criar um protagonista que reclama sobre a situação da música e em seus heróis deixados de lado, o texto não se limita à referência direta ao Jazz e as implicações desta forma de pensar.

A mesma discussão pode ser aplicada ao próprio cinema atual, apenas trocando os termos, mas isso não significa que o cineasta tente impor alguma visão ou afirmar que existe solução fácil, pois seu próprio texto traz o questionamento contra-argumentativo em certo momento. Já que a outra paixão é a própria Sétima Arte, nada mais natural que referências e citações venham neste pacote. Algumas mais evidentes, claro, como o cinema de rua exibindo o clássico de Nicholas Ray, Juventude Transviada, outras mais sutis que, caso comentadas aqui, poderiam resultar em spoiler.

La La Land: Cantando Estações, de Damien Chazelle

Em outra ótima sacada, não existe um referencial do tempo onde a narrativa se desenrola, pois vários elementos, entre músicas e filmes, de épocas diferentes se juntam para dar um ar atemporal a La La Land. Chazelle encontra aqui a melhor embalagem para sua história de amor e para a mensagem e reflexão que tenta passar ao público. O melhor de tudo é que, descontando esse conteúdo, o mínimo que se pode dizer sobre essa Los Angeles de sua obra é que é um lugar muito charmoso.

Como se não bastasse essa quantidade de elogios, Ryan Gosling e Emma Stone transbordam carisma e química em tela, ambos aproveitando o ótimo momento em suas carreiras. Ele convencendo na seriedade e no alívio cômico, cuja trajetória até aqui já evidenciou essa versatilidade (só comparar Drive com Dois Caras Legais), e ela mostrando sua desenvoltura de sempre, ainda que pareça fácil comparado com o que ela mostrou em Birdman. De qualquer forma, Sebastian e Mia parecem ter sido escritos especialmente para os dois, que dão conta perfeitamente da responsabilidade de carregar o filme.

Mesmo que La La Land: Cantando Estações não seja muito sua cara, seria difícil não reconhecer o talento de Damien Chazelle e não ficar curioso sobre seu próximo projeto. Auto referencial sem ser, de forma alguma, hermético, ao seu término, ele traz à cabeça uma pequena frase clichê:

Por que não fazem mais filme como esse?

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