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Homens, Mulheres e Filhos – Lado negro da era digital!

Homens-Mulheres-Filhos

Dizer que a revolução na comunicação, que a internet tornou possível, trouxe alguns inconvenientes para as relações humanas não é novidade. Parece um assunto tão óbvio que nem soa como uma boa ideia fazer um filme sobre isso, já que – teoricamente – na vida real já existem tantos exemplos tão visíveis que não há mais o que discutir. Chad Kultgen escreveu um livro de ficção abordando o assunto, em 2011, e o diretor Jason Reitman não teve medo de adapta-lo, três anos depois, em um filme homônimo. Homens, Mulheres e Filhos também é co-roteirizado por Reitman, que em Amor Sem Escalas – título mais do que estúpido para Up in The Air – já havia trazido uma bela reflexão sobre ostentação e solidão. Na verdade, esse filme de 2009 dialoga muito bem com o novo trabalho do diretor, que, realmente, tem muito a dizer sobre o impacto da internet na vida em geral, sem cair no lugar comum daquela nostalgia previsível que afirma que “antigamente era melhor”. Não existem julgamentos ou soluções didaticamente apresentadas para o público, que terá que arcar com a tarefa de tirar suas próprias conclusões sobre isso. Se gostar do filme, claro!

Homens, Mulheres & Filhos

O filme, sem protagonistas, mostra um grupo de pessoas ligadas diretamente ou não. A falta de atração sexual do casal Don e Helen Truby (Adam Sandler e Rosemarie DeWitt) se traduz no vício em pornografia online de Don, e no desejo de Helen de buscar um caso em um site de relacionamentos. O filho adolescente, Chris (Travis Tope), tem problemas em satisfazer seu desejo, a não ser que seja masturbando-se com o auxílio de sites eróticos. Don é amigo de Kent Mooney (Dean Norris), abandonado pela esposa, que o deixou com o filho Tim (Ansel Elgort). O garoto, destaque do futebol colegial, desiste do esporte por achar que tudo perdeu o sentido e passa mais tempo na internet, jogando em rede.

Donna Clint (Judy Greer), mãe solteira de Hannah (Olivia Crocichia), alimenta a expectativa de realizar seus sonhos frustrados através da filha, investindo na criação de uma carreira artística que inclui um site com ensaios ousados da adolescente. Patricia Beltmeyer (Jennifer Garner) é uma fanática radical contra os perigos da internet, sacrificando toda a privacidade da filha Brandy (Kaitlyn Dever), a única personagem que parece manter-se de forma saudável ancorada no mundo real. Por fim, Alisson Doss (Elena Kampouris) é uma adolescente com distúrbios alimentares visíveis. Através de uma teia de relacionamentos bem construída, um caminho acaba cruzando-se com outro de forma sutil, sem parecer que o mundo desses personagens se resume a um pequeno grupo.

Homens, Mulheres & Filhos

Um dos grandes acertos de Homens, Mulheres e Filhos é a escalação de um elenco perfeitamente convincente como gente comum. Depois dos interessantes Embriagado de Amor (2002) e Reine Sobre Mim (2007), Adam Sandler se arrisca novamente em um papel dramático e não decepciona, compondo um personagem cujas reações deixam claras a insatisfação e infelicidade resignadas. Dean Norris, o Hank de Breaking Bad, longe de ser um grande ator, encontra um papel sob medida na persona de um pai confuso por perder a única linha de comunicação com o filho. Mesmo J. K. Simmons, como o pai de Alisson, cujo nome nem é mencionado, também contribui para essa característica. A opção de utilizar uma narradora onisciente poderia ter se tornado uma muleta e tanto para um diretor preguiçoso, mas o recurso é pontual e criativo. A voz e o forte sotaque britânico de Emma Thompson trazem um tom levemente irônico para essa crônica da vida moderna. O recurso de exibir os diálogos virtuais dos personagens, abrindo janelas coloridas no meio da cena, também poderia ter comprometido o andamento da narrativa, Felizmente, em mais uma decisão inteligente, foi utilizado de forma moderada.

Homens, Mulheres & Filhos

Interessante e relevante para o nosso momento atual, Homens, Mulheres e Filhos não é uma obra de auto-ajuda, muito menos um vídeo institucional sobre os limites no mundo conectado de hoje, mas nem por isso deixa de ter valor, também, no sentido de fazer as pessoas refletirem a respeito. Para um público pensante, que não despreza narrativas menos convencionais e que aceita o desafio de descobrir por si mesmo o discurso de um filme, é um programa bastante satisfatório.

Mas como, muitas vezes, grande parte da graça de um bom cinema é a ambivalência, não vai deixar de incomodar também.

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