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Homem-Aranha: De Volta Ao Lar – John Hughes + cabeça de teia!

Homem-Aranha: De Volta Ao Lar agrada já em sua proposta

Depois da trilogia que Sam Raimi começou em 2002, culminando em um filme abominável em 2007, o Homem-Aranha ainda “sofreu” um reboot pelas mãos de Marc Webb. Até hoje, é difícil encontrar defensores dos dois filmes gerados neste reinício ordenado pela Sony, detentora dos direitos cinematográficos do personagem. Aliás, os pobres fãs precisaram engolir a frustração pelo aracnídeo não estar sob o guarda-chuva da Marvel Studios, que surgiu bem depois das negociações que garantiram os direitos de algumas propriedades a estúdios variados. Homem-Aranha: De Volta Ao Lar (Spider-Man: HomeComing) é um motivo de comemoração para esses mesmos fãs, depois da divertida participação em Capitão América: Guerra Civil.

(Confira também o Formiga na Cabine sobre o filme e o Formiga na Tela sobre os momentos marcantes das HQ’s)

Crítica do filme Homem Aranha De Volta Ao Lar

Homem-Aranha: De Volta Ao Lar

Graças ao acordo entre a Sony e a Disney/Marvel Studios, o terceiro filme do Capitão apresentou a nova encarnação de Peter Parker e seu alter ego. Já naquele momento, conferimos uma abordagem bem diferente das anteriores, começando pelo fato de que o jovem ator Tom Holland é realmente um adolescente, agindo como tal e lidando com problemas específicos deste período da vida. Naquele momento, já sabíamos que havia um filme solo em produção, depois vieram os trailers, que pareciam revelar demais. Com o que foi exposto nesta campanha, não parecia haver muito mais a se ver assistindo ao filme. Ainda bem que  eu estava errado.

Como nosso protagonista já foi reiniciado nesta fase sem a necessidade de recontar sua origem (será que alguém não sabe/lembra?), Homem-Aranha: De Volta Ao Lar mantém essa pegada. O vilão, Adrian Toomes, vivido pelo carismático Michael Keaton, é um engenheiro atuando como contratado da prefeitura na limpeza e reconstrução de NY, logo após os eventos vistos em Os Vingadores. Sua revolta é a perda deste contrato, uma vez que as empresas Stark assumem o trabalho, por conta do perigo envolvendo o material alienígena nestes destroços.

A questão é que Toomes já havia recolhido um pouco deste entulho e resolve aproveitar-se desta tecnologia. Agora equipado com asas mecânicas, ele mantém um lucrativo negócio ilícito por anos. Enquanto isso, Peter Parker volta à sua vida comum após ter conhecido os heróis pesos-pesados. Tentando a todo custo impressionar Tony Stark e entrar para os Vingadores, o garoto sempre é frustrado pela indiferença do Homem de Ferro, que insiste em tratá-lo como uma criança incapaz. Como se isso e a identidade secreta não bastassem, ele ainda vive os dilemas comuns da idade e o filme é exatamente sobre isso.

Calma. O Peter de Tom Holland não é um emo chato e lamuriento, algo que nem caberia nesta proposta. O filme dirigido por Jon Watts vai por um caminho leve e divertido, encolhendo ser uma obra sobre as desventuras de um adolescente pouco popular, porém, com super-heróis no balaio. Enquanto proposta, é uma ótima escolha, pois já vimos isso funcionar em Batman – O Cavaleiro das Trevas, que jogava com o gênero policial, e o recente Logan, que se valia da estrutura de western. Não que Homem-Aranha: De Volta Ao Lar seja tão bom quanto esses, mas essa essência valoriza bastante o conjunto.

Crítica do filme Homem Aranha De Volta Ao Lar

Lembrando os clássicos adolescentes oitentistas de John Hugues, incluindo aí até uma citação explícita a um filme deste cineasta, a aventura é eficiente e vai além do mero produto genérico da Marvel nos cinemas. Ainda que muitas mãos mexendo em um mesmo roteiro quase nunca dê certo, os inacreditáveis SEIS roteiristas entregaram um texto melhor do que se esperaria. As sutilezas chamam atenção, a começar pelo vilão. O Abutre não é alguém com ambições grandiloquentes de dominação e/ou destruição, mas alguém lucrando nas sombras com uma atividade que faz jus ao seu apelido. O Homem-Aranha surge como alguém que atrapalha essa atividade, criando um antagonismo natural daí. Já é um ponto positivo, mas não é só isso.

Sem revelar algo além do que você já deve ter visto nos trailers, herói e vilão tem um ponto em comum na figura de Tony Stark. Enquanto Toomes odeia o bilionário por arruinar seu negócio, Peter Parker o tem como uma figura quase paterna, tentando impressioná-lo e provar seu valor. Ao mesmo tempo que o antagonista justifica-se dizendo que Stark e outros comandam as coisas de cima, pouco se importando  com quem está abaixo deles, o protagonista tem poucos argumentos para negar esse raciocínio. O conflito adulto X adolescente ganha outra proporção e só resta ao garoto ignorar o resto e fazer o que um verdadeiro herói faz.

Essa ideia de maximizar situações comuns da adolescência em uma história de super-heróis é a essência do aracnídeo criado por Steve Ditko e Stan Lee em 1962. Homem-Aranha: De Volta Ao Lar ainda explora um pouco mais essa ideia interessante naquilo que é o grande plot twist do filme, que, evidentemente, não revelaremos aqui. Com tantos pontos a favor em um roteiro que tinha tudo para dar errado, o que faltou no filme? Bem, para começar, talvez a leveza geral da produção impeça um envolvimento maior com o drama do protagonista, o que pode não ser necessariamente um defeito, mas uma opção consciente. Se funciona, em maior ou menor escala, isso fica unicamente a critério do espectador.

Crítica do filme Homem Aranha De Volta Ao Lar

A parte técnica merecia mais atenção

Infelizmente, se o roteiro tem consistência e o ritmo é eficiente na cadência dos acontecimentos e apresentação dos conflitos, a parte técnica não está à altura. Os problemas dos efeitos especiais, principalmente em relação à física dos movimentos do Homem-Aranha, que já vem desde a época de Sam Raimi, continuam lá. Seria um pecado menor, caso Jon Watts fosse um tanto mais hábil na construção das sequências de ação, que não empolgam tanto quanto poderiam. Como a comparação é inevitável, é impossível não pensar em como os filmes de Raimi se saíam melhor neste quesito.

Não era mesmo possível esperar que a fotografia se destacasse, logo, o trabalho de Salvatore Totino não traz nada marcante e nem imprime alguma característica distintiva ao filme. Na mesma está a trilha de Michael Giacchino, algo que a grande maioria dos filmes da Marvel, lamentavelmente, tem em comum (veja este vídeo e esta curiosidade sobre o tema de Doutor Estranho). Esses detalhes não estragam o filme, mas poderiam ter sido tratados com mais atenção.

Com alívios cômicos que funcionam em sua maioria, em uma quantidade que está de acordo com a proposta do filme, Homem-Aranha: De Volta Ao Lar surpreende com suas boas sacadas conceituais. Aproveitando bem seu elenco, a nova aventura cinematográfica do cabeça de teia tem mais personalidade do que os pessimistas esperavam. Levando em conta a construção do personagem, é a melhor abordagem até aqui, trazendo muito daquilo que fazia os quadrinhos originais especiais. Com o objetivo principal atingido, divertir o público sem ferir a inteligência de ninguém, só resta torcer que as continuações mantenham essa pegada.

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