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Creed: Nascido para Lutar – Ode desnecessária!

Creed: Nascido para Lutar foi comentado no Formiga na Cabine!

Creed

Quando Sylvester Stallone lançou o primeiro Rocky, em 1976, ele ainda era um ilustre desconhecido em Hollywood. É historicamente conhecido seu colossal esforço para trazer à luz a história de um boxeador muito mais dedicado do que talentoso, cuja resiliência, associada à alguma sorte, o leva a enfrentar o campeão mundial dos pesados. Um conto simples, ainda que poderoso, sobre superação e que fala diretamente ao homem mediano moderno. Um sucesso estrondoso que rendeu cinco continuações, basicamente com variações desse mesmo tema. Não é exagero dizer que o personagem é mais do que a menina dos olhos do ator, mas também a visão que ele tem dele mesmo e de sua trajetória como homem e artista.

Creed

Pois bem, acreditávamos que a conclusão do alter ego de Stallone havia sido dada no digno Rocky Balboa, no agora distante ano de 2006, mas parece que o Garanhão Italiano não estava acabado, dentro ou fora das telas, e o criador do personagem nos entrega mais um capítulo da saga do boxeador. Mantendo a tradição dos mitos, esse novo capítulo fala sobre legado, herança e a passagem do bastão para a nova geração. Um tanto óbvio? Devemos dizer que essa é a impressão geral de Creed: Nascido para Lutar (Creed). Não podemos dizer que o filme em si seja ruim, pois todos os elementos que o envolvem, seja atuação, direção ou produção, são no mínimo competentes. No entanto, a pergunta que fica no ar ao término da película é: isso era realmente necessário? Depende de quem responde.

A intenção evidente da MGM é criar uma nova franquia, usando o apelo das carismáticas figuras de Rocky e seu maior adversário e grande amigo, Apollo Creed, para alavancar uma nova “lenda” – o filho perdido de Apollo, Adonis Johnson, interpretado por Michael B. Jordan. Já a intenção de Stallone é fazer com que a chama de seu personagem não pereça, fazendo-o assumir seu atual momento na vida para que ele demonstre que, mesmo fora dos ringues, ainda tem algo a entregar.

Creed

A trama do filme emula, aparentemente de forma intencional, os principais elementos do Rocky original – um jovem talentoso, mas desacreditado, luta para chegar ao Olimpo de um esporte perigoso e competitivo. Sua dedicação faz com que ele se sinta sozinho, afastando os que são próximos a ele. Em meio a momentos de incerteza na sua vida, recebe de maneira inusitada uma oportunidade única de lutar contra o campeão mundial de sua categoria, “Pretty” Ricky Conlan (o britânico Tony Bellew, boxeador profissional na vida real). No caminho, supera contratempos com o apoio do amor intenso de Bianca (Tessa Thompson) e recebe a orientação de um treinador durão da velha guarda, que é – claro – ninguém menos que o próprio Balboa. Não é exagero de nossa parte. Todos esses elementos estão inexoravelmente lá, mas o grande diferencial de Creed, em relação ao primeiro Rocky, é que este saiu das sombras, de lugar nenhum, para enfrentar o maior de todos os tempos. Já Adonis carrega todo o peso e a responsabilidade de ser filho deste último.

Creed

Em uma tentativa frívola de fugir dessa comparação óbvia que fizemos acima, o filme usa indiscriminadamente a figura do lendário Apollo para inverter o status quo do protagonista – enquanto Rocky se esmerava para cravar seu nome na história, Adonis foge do legado de seu pai para tentar construir seu próprio. Como é de se esperar, a presença de Rocky como o mentor de Adonis acaba aproximando o garoto da memória do pai que nunca conheceu, devido a todo o respeito e admiração que Rocky demonstra por seu falecido amigo e antagonista. A figura do Creed original é tão reverenciada durante todo o filme que, ironicamente, quase esquecemos o tratamento dado a ele nos questionáveis Rocky’s III e IV. Boa tentativa.

Mas onde Rocky entra nessa história? Como dissemos, Rocky enfrenta aqui uma nova perspectiva na vida. Usando a analogia que o próprio filme coloca à exaustão, um novo “combate”. O personagem está velho e conformado com seu cotidiano. Ao assumir a responsabilidade pelo treinamento de Adonis, redescobre – novamente – o amor pelo esporte. O grande obstáculo dessa vez é o que traz a outra metade da carga dramática do filme. Uma descoberta inesperada faz com que todos os eventos em desenvolvimento no filme sejam colocados sob uma nova perspectiva.

Creed

Talvez esse seja o grande peso que impede que o filme se sustente sozinho. Embora seu título se dirija ao personagem de Michael B. Jordan, a obra é dividida quase que igualmente com Rocky. O resultado acaba sendo pior para o novato, pois era inevitável que a figura do lendário boxeador acabaria ofuscando-o. Entendemos em uma certa altura que o personagem acabaria engolido por Rocky, se não carregasse o nome de Creed, e não por qualquer demérito do seu intérprete. Michael B. Jordan demonstra que tem um imenso potencial para uma prolífica carreira, nos entregando uma atuação digna de nota (quase nos fazendo esquecer a calamidade de Quarteto Fantástico). O “problema”, por assim, dizer é que Stallone também está numa jornada razoável aqui, e seu conforto em interpretar o personagem acaba atraindo os holofotes para si, tornando o filme desequilibrado.

Creed

A direção de Ryan Coogler é sintomática nesse sentido. São nítidos os momentos em que ele imprime sua marca, de maneira bastante competente, como nos bons planos sequência que permeiam pontualmente o filme. Porém, também é nítido quando ele se torna submisso a um personagem que é maior do que a sua direção, rompendo o ritmo e criando uma cisão muito clara e pouco harmoniosa do filme que pertence a Coogler e do filme que pertence a Stallone. Creed, que se propõe a falar sobre respeito ao legado e a passagem para uma nova geração, acaba limitado pela sua auto-reverência ao passado. Essa polarização prejudica não apenas Adonis, cuja motivação no filme parece ser até menos sólida do que a de Rocky, mas prejudica também a todos os personagens coadjuvantes, que tem potencial, mas somem diante dos protagonistas.

Nada disso torna o filme insuportável, pelo contrário, pois está longe de ser ruim. Existem elementos que são até louváveis. A música original de Ludwig Göransson também emula elementos da trilha clássica de Bill Conti, mas adicionando novos temas que ajudam a criar e determinar a identidade do jovem Adonis. A estética geral e fotografia também respeitam as características deixadas pelo sexto Rocky, o que também é um ponto positivo, mas nota-se que mesmo os pontos exaltados aqui também se curvam a elementos já previamente estabelecidos.

Creed

Creed: Nascido para Lutar é um filme extremamente previsível, por remeter ininterruptamente ao filme original da franquia e a elementos de suas sequências. Então, para concluir, deixemos absolutamente claro – é um filme feito para os fãs do personagem e da série como um todo. Se você se sente confortável com um filme padronizado de boxe, com aquelas pitadas básicas de drama de superação, vá seguro. Se você se também se envolve com a trajetória de Rocky Balboa e ainda não se cansou dos dramas que o perseguem, fique tranquilo, está tudo lá.

Afinal, enfrentar um adversário conhecido, para alguns, é confortável. Para outros, apenas enfadonho.

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