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Bye Bye Alemanha – Brincando com coisa séria!

Bye Bye Alemanha é uma comédia sobre o pós-guerra

Há muito tempo se discute os limites da arte. Quando pensamos nela, rapidamente nos  lembramos da liberdade que acompanha o ofício. Mas será que o artista é tão livre quanto pensa? Nos dias de hoje, em que o politicamente correto reina, as limitações se tornaram maiores. Entre os assuntos que permanecem delicados, a Segunda Guerra Mundial talvez seja o principal deles. Como as feridas são relativamente recentes, retratar o evento de uma maneira que não seja inteiramente dramática pode ser um risco. Bye Bye Alemanha (Es War Einmal In Deutschland…), novo longa do diretor Sam Garbarski, busca colocar esse perigo à prova.

Crítica de Bye Bye Alemanha

Bye Bye Alemanha

O protagonista da história é um judeu chamado David Bermann (Moritz Bleibtreu). Morando na Alemanha nos anos seguintes ao fim da guerra, ele deseja viver nos Estados Unidos. Para isso, ao mesmo tempo que tenta tirar um passaporte na embaixada norte-americana, forma um grupo de trambiqueiros com a intenção de enriquecer às custas dos alemães. No entanto, nenhuma das empreitadas sai como o planejado. Enquanto a primeira se arrasta por causa de um segredo do passado, a segunda é interrompida porque um dos membros se engana sobre a identidade de um cliente.

Ao usar a comédia para retratar a Segunda Guerra Mundial, Bye Bye Alemanha não está fazendo algo original. Basta nos lembrarmos de O Grande Ditador, Primavera Para HitlerA Vida É BelaBastardos Inglórios para perceber que isso já foi feito antes. Curiosamente, além de compartilharem o mesmo gênero, todos esses filmes possuem mais um elemento em comum: de uma maneira ou outra, enfrentaram o perigo de serem chamados de “irresponsáveis”. Seria ingenuidade achar que Garbarski não está ciente de que isso também pode acontecer com o seu filme. Porém, até o momento, não existiu nenhuma represália ou artigos enfurecidos contra a produção.

Crítica de Bye Bye Alemanha

E Isso talvez seja explicado pela solução engenhosa oferecida pelo roteiro. A história caminha em duas mãos: de um lado há comédia e do outro, o drama. Nos momentos mais cômicos, em que o roteiro flerta com diferentes tipos de humor, indo desde a caricatura até a comédia de situação, passado pela completa farsa, tanto o riso quanto o desconforto são gerados. Por mais que a vingança realizada pelos personagens seja compreensível, ainda assim há a incômoda sensação de aquilo que eles estão fazendo é moralmente errado. Se levarmos em conta que foi justamente a vendeta dos alemães o motor propulsor do Nazismo, ficamos ainda mais irrequietos.

Os instantes dramáticos, por sua vez, são construídos através de flashbacks que mostram a natureza do envolvimento de David com a Gestapo e poderosos diálogos entre o protagonista e a oficial que o entrevista na embaixada. Porém, nenhuma dessas situações parece oferecer uma justificativa para os momentos de comédia ou até mesmo para a sua própria existência, uma vez que as voltas ao passado revelam poucas coisas sobre o personagem. Até o final, as coisas caminham nessa toada. No entanto, quando enfim descobrimos o grande segredo, todas as pontas do filme são atadas perfeitamente.

Crítica de Bye Bye Alemanha

Às vezes, os fins justificam os meios

A resposta final encontrada pelo diretor e o roteirista Michael Bergmann não só aumenta o impacto da história, como também justifica cada uma das escolhas narrativas: os flashbacks terminam se mostrando essenciais, a comédia e o drama finalmente se abraçam e a intensa atmosfera cômica revela ter os seus fundamentos na história do próprio protagonista, que é uma espécie de palhaço (no conceito teatral do termo), enxergando tanto o humorístico quanto o dramático. E como os seus olhos são os nossos, o emprego dos dois gêneros é totalmente explicado.

Isso faz com que Bye Bye Alemanha nunca soe arbitrário ou gratuito. Com um visual acolhedor, um ritmo lento e uma direção elegante, o filme é uma comédia consciente do território em que está pisando, jamais ultrapassando os limites do bom senso e do respeito. Além do mais, é extremamente refinada, o que, atualmente, não seja uma característica muito atraente para um público cada vez mais acostumado a lixos como Tinha Que Ser Ele?Baywatch e tantos outros.

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