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Por que The Room é considerado um dos piores filmes da História?

Por que The Room, o longa de Tommy Wiseau, é tão ruim ao ponto de ser considerado uma desgraça?

Bom, com o lançamento de O Artista do Desastre, o público não-cinéfilo conheceu os bastidores de The Room, longa de 2003 que foi escrito, produzido, dirigido e estrelado por Tommy Wiseau. Pouco a pouco, por conta das “qualidades técnicas” ele foi sendo considerado um dos piores filmes já feitos, junto com Plano 9 do Espaço Sideral de Ed Wood. Mas analisando o longa de Wiseau, porque ele é tão horrendo, sendo que é um drama, não um longa de ação. Bom, vamos analisar com cuidado The Room e ver os seus (des)méritos.

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Tommy Wiseau rindo em The Room. Temos uma ideia do porquê…

Roteiro: Sobre o que é esse filme?

Sydney Lumet dizia que, para não se perder o foco quando está fazendo, um filme precisa fazer uma frase que sintetize todo o significado da obra. Pois bem, sobre o que diabos é The Room? Sei lá. É a história de um cara bem sucedido que percebe que a noiva está traindo ele com o melhor amigo… e só. Não há algo a mais, não tem uma motivação para que ocorra tudo isso. Só deixam claro o quanto Johnny (Wiseau) é uma pessoa bondosa, e que o mundo é cruel e acaba traindo ele.

Ou seja, é um drama que mostra um cara saindo da adolescência e indo para a vida adulta? Não, não é isso. Mas mostra o quanto a moça Lisa e o melhor amigo Mark se sentem culpados por trair Johnny, então é uma história de amizade e traição? Não, porque eles não pensam duas vezes em ir para a cama, e a moça simplesmente decide do nada que não ama mais o noivo. Eu sei, é muito coerente.

Outro ponto que precisa ser levado a sério é a pobreza dos diálogos, que parecem terem sidos feitos para uma novela mexicana cretina. São falas que tentam parecer como se tudo fosse um drama sério e complexo sobre a natureza humana. Mas isso significa que não há alguma reação quanto as falas. Melhor dizendo, há sim: risadas. É só vermos quando Jonnhy vai até a casa da noiva para desmentir que ele bateu nela: enquanto ele demonstra todo a sua decepção e questiona o motivo da mentira, a moça simplesmente pergunta por que ele está histérico.

Sim, isso mesmo. É a resposta clara que qualquer pessoa comum diria em um caso desses, né? Sim, no mundo estranho de Tommy Wiseau. Aliás, os personagens do longa reagem muito bem a noticias chocantes, como: “Estou usando drogas! Sem problemas, vamos conseguir consertar isso”; “Estou morrendo de câncer e tenho um exame que confirma que tenho meses de vida! Relaxa,  superaremos isso”; ”Estou apaixonado por sua noiva! Tudo bem, as pessoas amam umas as outras”. Quem dera que no mundo real as pessoas reagissem dessa maneira – mas isso é exclusivo do mundo de Wiseau.

Calma, há mais coisa para tirar nesse roteiro. Se a trama já é sem foco e os diálogos péssimos, o que dizer dos outros núcleos? Temos dois que são tão porcamente trabalhados quanto a trama principal, mas que servem para dar “profundidade” para o filme… Mas não. São só chatos mesmo. Primeiro tem a mãe de Lisa, que sempre pergunta por algum motivo o que tem de errado, sendo que não é o que ela acha que está errado. Além do fato de que a moça, por algum motivo desconhecido, protege mais Johnny que a própria filha.

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O “estelar” elenco de The Room!

Quando Lisa mente, dizendo que Johnny teria bebido e batido nela, a senhora apenas diz com toda a certeza que o rapaz não bebe. Não importa se ele bateu nela, mas ele não bebe. A outra se diz respeito a Denny, um rapaz que aparentemente não tem pais e lar, mas vê no protagonista a sua figura paterna. O problema é que esse menino é no mínimo estranho, e só serve pra deixar o filme mais constrangedor. Vamos pegar a primeira cena em o rapaz aparece: do nada, ele chega e mostra que gosta muito do casal.

Ok, nada demais. Aí o feliz casal sobe para o seu quarto para fazer sexo, e o menino entra parecendo que quer participar do ato e fazer um ménage a trois. O que era pra ser bonitinho só soa bizarro e errado. Outro exemplo é quando ele aparece na casa, e pergunta a Lisa se ela poderia beijá-lo na boca. Esse menino não serve pra nada, mas para parecer relevante é revelado que ele tem problemas com drogas em uma altura do campeonato… Que não serve pra nada.

Resumindo, esse é um roteiro que não acerta em absolutamente nada. A história é chata e sem sentido, os diálogos são hilários por serem ridículos e os personagens são vergonhosos. Mas calma que vem mais.

Direção: Para Onde Aponto a Câmera?

Se analisamos o roteiro de Wiseau, como podemos falar do seu trabalho na direção? Estúpido, simples assim. Parecem aquelas novelas mexicanas, em que a câmera não faz uma variação de planos, faltando o zoom no rosto deles. Além da mise en scène inexistente, Wiseau parece desconhecer o básico da linguagem cinematográfica. Não há um movimento de câmera interessante, nenhum plano que realmente complemente a narrativa, e os feitos são filmados de qualquer maneira.

Além desses problemas, não há cuidado com os cortes, deixando o que era o ruim engraçado, e o ruim chato, já que como foi dito, o roteiro acha que é profundo – mas é qualquer coisa, menos isso.

Além dos enquadramentos não ajudarem os cenários que não são locação, que fica óbvio que é estúdio. A iluminação é malfeita, assim como a escolha do posicionamento da câmera, que só serve pra salientar a falta de noção de Wiseau de como posicionar uma câmera. Isso sem contar as longas e gratuitas cenas de sexo que parecem terem saído de um soft porn de baixo orçamento.

Atuações: “I did not hit her…I did Naaah. Oh…Hi Mark!

Bom, se o roteiro de The Room é ruim, e a direção é péssima, o que dizer do nível das atuações? São todas ruins e inexpressivas, parecendo que os atores estão dizendo o que está escrito no teleprompter. Isso se deve a direção e ao péssimo texto, e dá pra perceber que nem os atores colocaram fé em Wiseau.

Aliás, esse é de longe o grande chamariz do longa: a atuação de Tommy Wiseau. Façamos um exercício: Imaginem uma atuação ruim. Pensaram? Bom. Agora pensem em um sotaque forçado, que faria Jean-Claude Van Damme e Arnold Schwarzenegger parecerem verdadeiros fluentes na língua inglesa. Veio a tona? Ótimo. Agora juntem esses dois fatores em um zumbi esquisito de quase dois metros. Tudo isso = Tommy Wiseau.

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A reação de James Franco em O Artista do Desastre reflete muito nossa própria reação ao assistir The Room…

Sério, é uma das piores interpretações da História do Cinema. Wiseau não tem expressão, ele erra as dicções, não dá emoção às suas cenas. Quer dizer, as suas emoções mais fortes se resumem a caras, bocas e gritos. É só procurar qualquer coisa sobre a icônica atuação de Wiseau em The Room para acreditar no nível da… “inquestionável” qualidade da atuação.

Enfim, esse é The Room, essa coisa feita pelo demônio; mas por que o filme ganhou o status de cult, se é tão ruim? Primeiro, pelo fato de Tommy Wiseau ter dado a cara a tapa e ter feito o filme. Segundo – e o principal motivo – é que é tão inacreditável de ruim, que você precisa ver para acreditar. Não basta apenas fazer essa análise para falar o quanto o filme é ruim- é preciso ver. Para quem quiser saber os bastidores dessa grande produção, recomendo assistir ao divertido O Artista do Desastre.

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