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Annabelle 2: A Criação Do Mal – A origem da boneca maldita!

Annabelle 2 é superior ao filme de 2014

Quando Invocação Do Mal estreou, ninguém imaginava que os casos sobrenaturais investigados pelo casal Edward e Lorraine Warren seriam responsáveis pela formação de um universo compartilhado, exceto James Wan. Ora como diretor, ora como produtor, o cineasta capitaneou AnnabelleInvocação Do Mal 2 e o atual Annabelle 2: A Criação Do Mal (Annabelle: Creation). Nesta nova produção, dirigida pelo promissor David F. Sandberg (o responsável pelo injustiçado Quando As Luzes Se Apagam) e roteirizada por Gary Dauberman, o mesmo do primeiro filme, o espectador tem a oportunidade de conhecer a origem da infame boneca.

Crítica de Annabelle 2

Annabelle 2: A Criação do Mal

Se passando nos anos 1950 (portanto, alguns anos antes dos eventos vistos no longa predecessor), a história começa acompanhando Samuel Mullins (Anthony LaPaglia), o fabricante de Annabelle. Vivendo ao lado da família em um local paradisíaco, ele leva uma vida perfeita. No entanto, a paz do ambiente domiciliar é interrompida quando um atropelamento lhe tira a única filha. Tempos depois, como uma forma de amenizar a dor e seguir com a própria vida, ele e a sua esposa (Kerry O’Malley) decidem abrigar um grupo de meninas órfãs. Porém, a convivência pacífica logo é ameaçada pela presença de uma entidade demoníaca.

O primeiro ato de Annabelle 2: A Criação Do Mal é perfeito. Quem se decepcionou com o longa de 2014 e a direção artisticamente paupérrima de John R. Leonetti (cujo esforço mais recente é o horrendo 7 Desejos) será surpreendido durante os trinta primeiros minutos desta sequência. O único ponto em comum entre os dois filmes – além da história, evidentemente – é a competente recriação de época. Levando em conta a troca de equipe (o designer de produção, o diretor de arte e a figurinista foram substituídos) e a mudança do período retratado (a década de 1960 pela de 1950), chama a atenção como a roupagem foi alterada, mas a atmosfera do universo retratado permaneceu igual.

Já a direção, por sua vez, não tem nenhum ponto de convergência com a do filme anterior. Apesar de Annabelle 2 ser o seu segundo longa-metragem, Sandberg possui um domínio técnico e um nível de criatividade muito superiores aos de Leonetti. Isso é evidente logo nos minutos iniciais. Ainda no primeiro ato, há três momentos de virtuosismo técnico e narrativo. O primeiro deles, envolvendo uma brincadeira entre Samuel e a sua filha, é construído através de um longo plano, no qual a complexidade dos movimentos – tanto da câmera quando dos atores -, a duração exata de cada instante e as ações dentro e fora do quadro são empregadas para criar um suspense que será completamente contrastado pelo que acontece no final da cena.

Crítica de Annabelle 2

O segundo momento é quando as meninas (entre elas, Mia, a protagonista interpretada pela talentosa Talitha Bateman) exploram a casa de Samuels. Adotando a perspectiva juvenil das personagens (a canção tocada ao fundo surge para reforçar essa perspectiva), Sandberg compõe um exuberante plano-sequência, usando a câmera para percorrer os cômodos e, assim, estabelecer com clareza a geografia da residência (algo essencial, uma vez que mais de 90% da narrativa se desenrolará em um único ambiente). Por fim, o terceiro instante é aquele em que Mia se confessa para a freira Charlotte (Stephanie Sigman) e a câmera realiza um giro de 180º, exibindo suas faces e demonstrando a intimidade que existe entre elas.

Expandindo a mitologia de Annabelle

Retornando ao cargo de roteirista e se tornando um dos maiores responsáveis pela ligação entre todos os filmes deste novo universo compartilhado (ele também roteirizará os dois spin-off já anunciados), Gary Dauberman corrige alguma das falhas testemunhadas na obra de 2014 (como personagens desinteressantes)  e, ao fazer a opção de expandir a mitologia de Annabelle, salva o seu texto da mediocridade. A ideia de retornar no tempo, mostrar a confecção da boneca (em uma cena repleta de planos detalhes precisos e esteticamente ricos) e explorar a dinâmica familiar dos Mullins antes de adentrar na situação da protagonista e suas amigas é o principal charme da narrativa.

No entanto, ao mesmo tempo que revela a existência desses avanços, ele mostra não ter conseguido se livrar de algumas convenções. Nesse sentido, Annabelle 2 oscila constantemente entre a criação de expectativas e eventuais decepções. Por um lado, a mitologia é expandida com criatividade e competência, por outro, a trama deixa de ser sobre os personagens e se transforma no típico jogo de gato e rato entre a vítima e a ameaça, um recurso insosso empregado em roteiros inferiores. A mesma coisa acontece com os atos: a impecabilidade do primeiro acaba gerando um antecipação que não é potencializada ou inteiramente concretizada nos seguintes.

Crítica de Annabelle 2

Um elemento cênico que sintetiza essa montanha-russa de reações emocionais é o elevador criado por Mullins. Assim que ele é mostrado, cria-se um foreshadowing: de imediato, o público sabe que ele será o protagonista de alguma cena. No entanto, quando o grande momento chega, não só a cena, como também a decupagem de Sandberg (embora o diretor tenha trabalhado com as mãos atadas por causa dos erros de Dauberman), são concebidos sem muita inspiração, o que acaba criando um forte sentimento de frustração.

Porém, mesmo com esses problemas, Annabelle 2 consegue apresentar um resultado melhor que os atuais filmes do gênero – inclusive, o primeiro. A direção autoral de Sandberg (o número baixo de jumpscares e a destreza com que ele explora a profundidade de campo para gerar medo são dois méritos que precisam ser destacados) e as maneiras encontradas por Dauberman para aumentar o escopo narrativo de Annabelle são suficientes para fazer o longa se sobressair. Além disso, não se distancia do padrão atingido por Invocação Do Mal Invocação Do Mal 2, deixando o espectador ansioso pelos próximos lançamentos.

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