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Os brasileiros aos olhos dos estrangeiros em TRASH – A ESPERANÇA VEM DO LIXO

Baseado em um livro recente homônimo do escritor Andy Mulligan, que ao que tudo indica entende bem dos perrengues brasileiros pelos trabalhos voluntários que fez por aqui, Trash – A Esperança Vem do Lixo chegou para causar mais frisson no público internacional do que no brasileiro, a princípio. Na telona você verá a nossa manjada corrupção, a desigualdade social, o jeitinho brasileiro, a troca de favores, as maracutaias e por aí vai. Para nós, pertencentes desta terra, nada muito surpreendente.

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Dirigido pelo respeitado diretor Stephen Daldry (Billy Elliot e O Leitor), o destaque inicial deste seu último longa vai para o elenco que é um encontro entre atores internacionais conhecidos, como Martin Sheen (Apocalypse Now) e Rooney Mara (Os Homens que Não Amavam as Mulheres), com duas das principais estrelas nacionais, Wagner Moura e Selton Mello. Complementando o elenco, está um trio de garotos estreantes no cinema que será a parte principal da trama.

O local é o Rio de Janeiro. Os três meninos citados vivem e trabalham em um lixão. Na comunidade em que moram, um padre (Sheen) e uma professora (Mara) ajudam nas questões sociais e na busca de um futuro melhor para todos. Em um dia comum, um dos garotos encontra no lixão a carteira de um homem procurado pela polícia, o ativista José Ângelo (Wagner Moura). O dinheiro encontrado nela não é grande coisa, mas a extensa procura da polícia pelo objeto, comandado por Frederico (Selton Mello), desperta a curiosidade dos garotos que percebem que esta carteira é importante e tem mais a oferecer. Partem atrás de uma espécie de “caça ao tesouro”, desvendando alguns enigmas, e iniciam uma jornada que envolverá figuras públicas, revelações e ação.

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O cunho político, evidente principal discussão do longa, é encaixado em uma trama simples e de fácil entendimento, deixando para o roteirista e diretor o foco na exposição dos problemas sociais brasileiros. Este relato de denúncia não é novidade no cinema nacional, assim sendo é possível que o seu interesse de presenciar uma nova produção com este tema não seja dos maiores (posso estar redondamente enganado, é claro). Para o resto do mundo sim, e talvez aí esteja a grande esperança do diretor em trazer aos olhos estrangeiros problemas expostos com maior detalhamento sobre um país do terceiro mundo, mais especificamente o Brasil. Ainda mais em um ano de Copa do Mundo, onde os “abacaxis” foram destacados fortemente nos noticiários internacionais.

Deixando o lado político e social abordado no filme, vamos a narrativa imposta por Daldry. Prende atenção, fato. Há pouco respiro, mas a trama não chega a ser exaustiva ou incômoda. A agitação é compensada com alguns bons alívios cômicos e performances interessantes. Os garotos são esforçados e o resto do elenco mais experiente também não compromete. Outro ponto positivo é a ambientação verossímil que se torna outro acerto de Daldry.

Infelizmente, só de acertos o filme não fica. Colocando na balança, a trama não convence muito, o roteiro falha em certos momentos e até o debate político que a história poderia gerar, pelo menos para nós brasileiros, não empolga. A corrupção retratada é trivial e nada complexa. O político corrupto, a polícia comprada e o caderno de propinas dos corruptores são tão familiares para nós que a sensação que fica é a falta de maior substância na história e a necessidade de ideias mais desenvolvidas. Se falarmos em choque de realidade brasileira, José Padilha e Fernando Meirelles já tiveram momentos melhores.

Enfim, Trash – A Esperança Vem do Lixo tem um resultado final mediano, mas a tentativa de Stephen Daldry em sentir o clima brasileiro pesado, muito além das praias e carnaval, merece crédito. Infelizmente a experiência não será memorável, mas será uma experiência de qualquer forma.

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