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ACESSÓRIOS DE SUPER-HERÓI: Vigilantes Mascarados (Final)

PRIMEIRA PARTE AQUI!

Alan Moore

Alan Moore

Se você acompanhou os comentários públicos de Alan Moore ao longo dos anos, há algo de muito familiar no que ele está dizendo agora. A primeira vez que Moore reclamou, foi que não é favorável para a mídia juntar meia-dúzia de de gibis de super-herói e chamar o resultado de Graphic Novel, isso em 1989. Aqueles que acham um tanto hipócrita o escritor de Watchmen protestar contra os quadrinhos de super-herói, ignoraram o fato de que Watchmen não é uma celebração dos super-heróis, ou um molde para séries futuras do gênero. Foi concebida para testar o conceito de destruição. Antes da publicação começar, Moore a havia descrito como “a última palavra sobre super-heróis”.

O que mudou, graças às adaptações de quadrinhos para o cinema e televisão, é que isso:

…pode aparecer em um debate televisionado sobre a vigilância do governo dos EUA, na expectativa das pessoas captarem a referência, repleta de camadas. Isso aumenta a aposta. A discussão sobre super-heróis não é mais a respeito de noções peculiares de uma sub-cultura auto referente. É sobre a cultura americana em geral.

Watchmen e a desconstrução do mascarado!

Watchmen e a desconstrução do mascarado!

Na “Última Entrevista”, Moore declarou:

“Parece-me que uma parcela significante do público, desistindo do esforço de entender a realidade em que vivem, procuram ser capazes de, ao menos, compreenderem os espalhados, sem-sentido, mas-pelo-menos- ainda-finitos, “universos” apresentados pela DC ou Marvel Comics. Eu ainda observaria que isso é potencialmente, culturalmente catastrófico, ter a efemeridade do século anterior, possessivamente agachada no cenário cultural e recusando-se a permitir que essa era, certamente sem precedentes, desenvolva sua cultura própria, relevante e suficiente para a atualidade.”

Estão aí, pelo menos, duas questões distintas, que podemos caracterizar como (1) os perigos do escapismo e (2) as “questões de legado” que emergem quando personagens do escapismo criados em uma década diferente são usados agora.

O que há de errado em passar um par de horas em um mundo mais simples e mais colorido, como a Terra Média, a Federação Unida dos Planetas  ou o Universo Marvel, particularmente agora, quando nos sentimos ameaçados pelo terrorismo e incerteza econômica? Escapismo sempre foi uma faca de dois gumes. Escapamos de algo, mas sempre escapamos para algo. Super-heróis surgiram na Depressão, tiveram seu primeiro apogeu na Segunda Guerra, e parece fácil traçar uma linha e dizer que as crianças que os liam, em algum nível, o faziam porque o mundo real poderia ser horrível. Podemos provavelmente traçar exatamente a mesma conclusão sobre os jovens adultos de hoje e a popularidade dos ambientes ricos em fantasia de Harry Potter, O Senhor dos Anéis e Game of Thrones, em nosso mundo economicamente austero, pós- 11 de setembro.

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O problema é que esse gibi de super-herói não nos leva mais a uma terra de fantasia. Uma boa parte disso, graças ao próprio Alan Moore, porque a maioria dos quadrinhos de super-herói são agora conscientemente “realistas”. As cores dos quadrinhos são mais monótonas. As histórias do Batman são feitas para adultos, sobre crime justiça e a natureza da loucura. Se você está fazendo um filme com atores, você está mostrando um ser humano verdadeiro em um Bat-uniforme. Mesmo que seja Adam West em sua malha colante, você tem que aceita-lo como forma concreta. Um ser humano diz sua fala e solta socos, não desenhos. Os filmes modernos do Batman saíram do seu caminho para faze-lo parecer mais crível: Michael Keaton vestindo uma placa peitoral a prova de balas e Christian Bale utilizando a mais nova tecnologia, baseada em pesquisa militar da vida real. Super-heróis como seres humanos reais.

Muitos uniformes de super-heróis tem sido redesenhados para, pelo menos, parecerem mais funcionais – Batman é normalmente retratado vestindo equipamento militar, como um policial de controle de tumultos, que por acaso, tem um par de orelhas pontudas em seu capacete. Se você quiser “vestir-se de Batman”  hoje, você não iria a uma loja de fantasias, mas procuraria algum lugar que vendesse material militar. Um grande número de adultos que lê, ou assiste, Batman não está procurando por algo bobo, mas por algo com que possam se envolver como adultos, que toque alguma ferida ou necessidade emocional sobre o mundo real.

Enquanto estudiosos dos quadrinhos, que celebram as primeiras tiras do Superman, fazem um alvoroço em cima do fato de que houve uma vez em que o personagem defendeu o pessoal de um sindicato, na verdade seus primeiros oponentes não eram mais do que valentões e pequenos ladrões. Quando os super-heróis começaram , apenas crianças os liam, então eles lutavam contra o tipo de ameaças que os leitores conheciam do playground – os vilões do Superman, basicamente, roubavam dinheiro do almoço de alguém ou eram simplesmente maus. Fãs de super-heróis são agora um bocado mais velhos, e as ameaças são aquilo que assuste o leitor adulto. O Caveira Vermelha ainda combate o Capitão América, mas ao invés de de construir um robô gigante ou um raio da morte, em um arco recente (O Homem que comprou a América), ele e seus aliados bolam uma trama complexa – não é piada e é uma boa história –para arruinar a economia americana através da venda de hipotecas subprime.

Até a vilania do Caveira Vermelha se rendeu às maquinações do sistema financeiro dos EUA!

Até a vilania do Caveira Vermelha se rendeu às maquinações do sistema financeiro dos EUA!

Explicando: nas histórias de super-heróis modernas, “escapismo” quase sempre toma a forma de um mundo ficcional projetado para parecer quase exatamente como o nosso, embora com maiores níveis de crimes violentos, conspirações e terrorismo, em que um auto-selecionado grupo de elite resolve todos os problemas vestindo um uniforme e batendo em seus inimigos até a morte.

Essa última parte é muito importante. Em todo filme de super-herói – a tendência começa com o Batman de Tim Burton – heróis perderam sua relutância tradicional em matar. Provavelmente, isso pode ser explicado por uma convenção da mídia: na maioria dos filmes de ação, os heróis matam os “malvados”. Isso é uma tendência que não pega nos quadrinhos. Quando vimos, digamos, Superman matar em O Reino do Amanhã, ou a Mulher-Maravilha em Crise Infinita, é sempre apresentado como uma violação momentânea da ordem natural. A discórdia recente sobre o final do filme O Homem de Aço mostra que existe, pelo menos, uma parcela deste público que ainda se encontra além desses limites.

 


 

Assim termina o primeiro texto de ACESSÓRIOS DE SUPER-HERÓI, que enfoca a polêmica da Ku Klux Klan. Lance Parkin ainda continuou a dissecar o conceito de super-herói na mesma série, em mais dois artigos. Confira também:

ACESSÓRIOS DE SUPER-HERÓI: Verdade, Justiça, toda essa coisa (PARTE 1)

ACESSÓRIOS DE SUPER-HERÓI: Verdade, Justiça, toda essa coisa (FINAL)

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